No dia 27 de janeiro é comemorado o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase. A data tem como finalidade alertar a população sobre os sinais da doença e incentivar a procura pelos serviços de saúde. Nos últimos 25 anos, o Espírito Santo avançou no controle da doença e se posicionou entre os cinco melhores estados em índices de cura da doença.
O estado registrou, em 2017, 1,39 casos por 10.000 habitantes (aproximadamente 559 doentes em tratamento e com 3% de abandono). Em 1993, o Estado documentou 24,46 casos por 10.000 habitantes (cerca de 6.540 doentes, com percentual de abandono do tratamento em 59%).
Em relação à detecção de novos casos, também houve queda nos números durante o mesmo período, passando de 3,21 casos para 1,21 casos a cada 100 mil habitantes. Só no ano de 2017, foram registrados 487 novos casos da doença no Estado.
A diminuição dos casos no Espírito Santo é, de acordo com a coordenadora do Programa de Hanseníase da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Marizete Puppin, consequência do trabalho realizado pelo governo:
“São quase três décadas de trabalho intensivo. Temos um serviço contínuo nos municípios e o estado segue no fluxo contrário de outros no país, que tem aumentado o diagnóstico. O Espírito Santo tem um dos melhores índices de cura. O nosso paciente é diagnosticado, tratado e curado. Não deixamos abandonar o tratamento e, com isso, quebramos a cadeia de transmissão, porque só passa a hanseníase quem está doente”, explicou.
Mesmo com a diminuição no número de casos, a doença é considerada pelo Ministério da Saúde como um problema de saúde pública, porquetrata-se de uma doença endêmica, como explica a coordenadora do Programa de Hanseníase da Sesa.
“É uma doença que persiste. É uma endemia presente em todos os estados brasileiros e os números são muito altos em comparação ao que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS), que é menos de 1 caso por 10 mil habitantes. Por ser uma doença crônica, precisamos estar em permanente vigilância. No Brasil se fala em eliminação da doença, que significa trazer os números para os parâmetros e índices de menos 1 caso para 10 mil habitantes para todos os estados”, esclarece.
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa de evolução prolongada que ataca a pele e os nervos periféricos do corpo humano. A condição não é hereditária, tem cura e o tratamento é feito gratuitamente na Unidade Básica de Saúde do Município de residência do paciente.
Mais sobre a doença
– O que é Hanseníase?
É uma doença infectocontagiosa de evolução prolongada que ataca a pele e os nervos periféricos do corpo humano. É causada pelo Bacilo de Hansen, descoberto em 1873 pelo cientista norueguês Dr. GehardArmauer Hansen, daí o nome Hanseníase. Não é hereditária e tem cura.
– Quais os sintomas?
Manchas esbranquiçadas, violáceas, castanhas ou avermelhadas no corpo, com diminuição de sensibilidade ao calor, frio, dor e ao tato. A área fica como se estivesse anestesiada, dormente ou com formigamento, nódulos avermelhados e/ ou pele infiltrada (edemaciada).
– Como se transmite?
O contágio se dá através das vias respiratórias, na convivência da pessoa sadia com o doente contagiante, sem tratamento. O doente em tratamento correto não transmite mais a doença.
– Como tratar?
O tratamento da hanseníase é feito gratuitamente na Unidade Básica de Saúde do Município de residência do paciente. Em qualquer estágio da doença, o paciente recebe gratuitamente os medicamentos para ingestão via oral – os medicamentos destroem os bacilos. O tratamento leva de 6 meses a 1 ano. Se seguir o tratamento cuidadosamente, o paciente recebe alta por cura.
– O que acontece quando o paciente abandona o tratamento?
O paciente que não tratar, suspender ou abandonar o tratamento pode piorar ou recair; transmitir a doença e estar sujeito a deformidades físicas.
– Como se previne?
A prevenção da hanseníase se faz através do tratamento de todos os pacientes, na descoberta de casos novos; no exame dermato-neurológico e exame de contatos, na aplicação de uma dose de vacina BCG em todos os familiares e pessoas próximas.
– Qual a importância de examinar os contatos?
Como a hanseníase é uma doença transmissível (através das vias aéreas superiores, convívio íntimo e prolongado), a população com maior risco de adquirir a doença se concentra nos contatos domiciliares. Por isso a importância de exames nestas pessoas.
Hospital Estadual Pedro Fontes (Colônia Pedro Fontes)
O Hospital Estadual Pedro Fontes (HPF) deu início aos trabalhos em 11 de abril de 1937, no bairro que hoje é conhecido por Pica-Pau, na zona rural de Cariacica. A unidade foi por anos referência em tratamento à hanseníase no Estado.
Fundado pelo Dr. Pedro Fontes – daí a referência ao nome – que a época era diretor do Serviço de Lepra no Estado do Espírito Santo, o espaço tinha por objetivo deter a expansão da endemia e solucionar definitivamente a questão de sua prevenção.
Durante muitos anos, os portadores de hanseníase foram submetidos à internação compulsória. Mas, com o avanço do conhecimento científico, esse procedimento passou a ser suspenso. Já na década de 1970, o Hospital Estadual Pedro Fontes passou a não receber mais pacientes para internações compulsórias.
“O hospital teve um papel positivo dentro da política da época por trazer esperança para essas pessoas em relação ao tratamento”, lembra o atual diretor da unidade, Anderson Barbosa Oliveira, sobre a importância que o local teve para os pacientes com hanseníase no passado.
O hospital passou a tratar pacientes remanescentes do isolamento, que permaneceram sob os cuidados do Estado. Muitos deles, deixados pelos familiares, encontraram ali o lugar para chamar de lar, onde constituíram as suas próprias famílias.
“O estigma da doença, segundo muitos, doía, mas eles se reinventaram lá dentro. Com o fim das internações, muitos optaram em continuar na colônia por causa do preconceito”, relata o professor Sebastião Pimentel Franco, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
O professor coordena, há três anos, um grupo de pesquisa que realiza um levantamento do acervo documental da antiga Colônia Pedro Fontes. A pesquisa conta também com a participação da servidora Tânia Maria de Araújo, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), orientanda do professor Franco. O grupo realizou entrevistas com os remanescentes da colônia, com médicos e diretores do hospital. O professor pretende dispor a pesquisa em um site para futuras pesquisas.
“Os remanescentes relataram que no primeiro momento da internação, a adaptação foi difícil, por ficarem longe da família. Mas que depois o hospital os livrou da discriminação do mundo externo, possibilitou o tratamento médico, o trabalho, momentos de diversão, casa, entre outros”, conta o professor.