Pertencimento é uma sensação que forma os cidadãos. Ao se apresentar em espaços, as pessoas sempre dizem seu nome, de onde vem e aquilo que fazem. Quando vários indivíduos se unem com essa noção de pertencimento, forma-se uma comunidade. E as características em comum entre esses grupos de pessoas fortalecem essa relação, é o que chamamos de orgulho. Assim foi formada Araçatiba que continua valorizando suas riquezas, sua ancestralidade e sua gente.
Unindo educação, esporte e cultura, os alunos da EMEF Araçatiba crescem aprendendo com brincadeiras. A capoeira é uma arte ancestral. Fugidos da servidão, os povos afro-brasileiros usavam um estilo de luta composto de movimentos furtivos e executados de modo rasteiro. Esse modo de luta e resistência ficou conhecido como capoeira Angola. Aos poucos, em seus quilombos, os povos negros adicionaram elementos de dança e música a prática, tornando-se, também, um evento cultural de celebração da liberdade.
A palavra capoeira significa “o que foi mata”. Ela é formada pela conexão de dois termos indígenas, o “ka’a” (mata) e o pûer (que foi da mata), simbolizando essa resistência. Contudo, é mais que isso. A capoeira trabalha o movimento dos corpos, o gingado para a execução dos movimentos. Ela também requer elasticidade, com os movimentos de pés e de mãos.
E é nesse compasso que a roda da EMEF Araçatiba se forma, em um ambiente para celebração de suas raízes, além de uma prática esportiva e cultural. O projeto Ginga Viana, parceria da escola com a Secretária de Cultura e Turismo, atua na escola, de forma interdisciplinar, interclasse e dinâmica.
Aos poucos, as aulas se tornam uma rotina, que vira continuidade e atrai novos participantes. Daquelas atividades, os alunos levam ensinamentos para casa e recebem em troca de seus familiares, sua experiência e história sobre infância, passado e até mesmo contos de seus antepassados. São os laços sendo fortalecidos. Pertencimento.
Das rodas para as salas de aula. Da carteira para a imaginação. A arte circula e a educação impulsiona. Os alunos criaram maquetes representando a manifestação cultural. Com o uso de cartolinas, isopor, gravetos, lápis de cor ou massinha de modelar e muita criatividade, os alunos deram vida às suas obras de arte. Além disso, em sala de aula, aprenderam um pouco mais sobre a arte de se lutar e sua história.
Marcelo é um desses alunos. Inspirado nos desenhos que é fã, criou seus bonequinhos. Pensando no lugar onde vive, Araçatiba, produziu seu cenário. E como gosta muito de chutes da capoeira, colocou movimentos nas suas projeções. E ficou perfeito. Mais do que isso, fez com que ele viajasse e se apaixonasse ainda mais pela prática secular.
“Capoeira é muito legal. A gente pode brincar, aprender um instrumento que é o berimbau. E eu gosto muito de chutar na hora que eu jogo, por isso fiz os bonecos desse jeito”, conta Marcelo.
Essa é uma das ações que acontecem na comunidade ao longo do ano. Pelos corredores da escola, livros sobre o orgulho de pertencer a Araçatiba, suas diversas histórias e encantos. E a viagem pelo mundo dos livros é ainda maior, são histórias do próprio continente africano e das influências dos povos negros no Brasil.
O ensino da escola está atrelado ao orgulho de ser daquela região e ao poder se enxergar em todos os espaços, crescendo e aprendendo sentindo-se parte de algo grandioso e importante. E esse modo de ensino é uma realidade espalhada por todas as instituições de ensino vianense, afinal, a melhor educação da Grande Vitória se faz abraçando a todos e mostrando a cada aluno o quão especiais eles são.
Movimentar-se é como uma dança. A capoeira é o corpo em movimento. São os músculos em sintonia com o som desenvolvendo uma acrobacia balanceada entre ações com as mãos ou os pés. É a passagem de um ensinamento ancestral ao futurismo. É símbolo de resistência e de orgulho. É a consciência de seu corpo, de seu talento, de suas raízes e de ser.