Nesta quarta-feira (20) e sexta-feira (22), a Cia Teatro Urgente apresenta o espetáculo “Via Sacra”, obra de teatro performativo que utiliza como locações históricas o Santuário do Convento da Penha e a Igreja do Rosário, ambos em Vila Velha. Com movimentos expressionistas, a encenação revela um teatro-dança com gestual dramático e conta, ainda, com execução musical ao vivo pelo violoncelista Gabriel Camargo, tocando obras de Bach.
Realizado por meio do programa de coinvestimento Fundo a Fundo da Cultura, da Secretaria da Cultura (Secult), com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura) e do Fundo de Cultura do Município de Vila Velha, o espetáculo gira em torno de um sacerdote templário, num ritual pelo fim da pandemia, que revive o sofrimento e a paixão.
“Via Sacra” é uma encenação criada a partir do vídeo homônimo dirigido e interpretado, em 1988, pelo coreógrafo e bailarino capixaba Magno Godoy (falecido em 2008). A obra original apresenta a peregrinação do sacerdote por três templos significativos na formação cultural da América Latina: o ameríndio, gravado em Tiwanaku, na Bolívia; o barroco, nas igrejas do Pilar e São Francisco, em Ouro Preto, Minas Gerais; e o moderno, na Catedral Metropolitana de Brasília, Distrito Federal.
O espetáculo faz referência à dança-teatro butoh, de Kazuo Ohno, e ao teatro de Antonin Artaud, que produz transes e se comunica pelo mimetismo mágico dos gestos, questionando a supremacia da palavra falada. Trata-se de uma experiência dionisíaca, como manifestação ritualística, entre o sagrado e o profano, exaltando a ancestralidade do teatro, sua origem.
“Após a morte de Magno, em 2008, eu herdei a coreografia, o figurino e, na pandemia, gravei um vídeo em frente à Igreja do Rosário. Agora, dando continuidade a essa peregrinação, danço na Igreja do Rosário e no Santuário do Convento. Algo inédito. Ninguém nunca dançou no interior do santuário”, ressalta Marcelo Ferreira, responsável pela direção e performance de “Via Sacra”.
Mais que aliar teatro e patrimônio cultural, o projeto busca expandir a cena para fora dos palcos, tendo como cenografia a imponência de igrejas de períodos históricos significativos. “Isso nos remete ao limiar entre o sagrado e o profano. Na Idade Média, as encenações ocorriam na frente das igrejas. Ainda hoje, o pátio das igrejas é palco para manifestações populares em muitas cidades”, acrescenta Marcelo Ferreira.
De acordo com ele, é uma proposta que se preocupa com o patrimônio histórico, para que seja apreciado sob outro ponto de vista, como locação para apresentações artísticas, resgatando uma ancestralidade mística do teatro. “As apresentações serão também gravadas e exibidas posteriormente nas redes sociais”, conta.